sexta-feira, 18 de março de 2011

Latas sob trilhas interpretativas da escola

Violência gera violência. Retrucar é a questão?

O vídeo do menino australiano que virou a coqueluche da internet nestes últimos dias me deixou bastante inquieta. O que fazia a "professora" como espectadora da cena? Tudo foi muito rápido. Os dois se configuram como vítimas agressoras.

Ficaremos refém da violência na escola? Olhando o vídeo lembrei da conferência de Barack Obama, na Casa Branca, em 10/03/2011, quando revela ter sofrido bullying na escola e preocupa-se em dizer: "é preciso desmistificar que o bullying é um rito de passagem inofensivo do processo de amadurecimento".


Aprendi com estudantes da Unidade Pedagógica da Faveira, que fica na Ilha de Cotijuba, a pensar como eles: quem cuida do agressor? Ser expulso da escola vai minimizar a violência real ou simbólica que atinge cotidianamente a todas as pessoas? Penso que tirar o agressor dos olhos de todos, não resolve em nada o problema. É a mesma coisa que varrer das vistas os mendigos da cidade para bairros distantes, e bem ao melhor estilo de só "para inglês ver".


As brincadeirinhas de mau-gosto reforçam atitude de insegurança e dificuldade relacional tornando a pessoa apática, retraída, indefesa aos ataques externos. Exigem ações de informação, prevenção e tratamento pedagógico contra o desconhecimento ou a indiferença na/da escola que só favorecem a violência e suas consequências.


A reação de Casey Heynes, o "garoto Zangief", exige-nos no conjunto dos fatos, a mais reflexão e atitudes novas na escola, reapresento por aqui o vídeo: Bullying - when enough is enough Video

- A violência é um espetáculo?


Como contraponto às questões banalizadas como coisas de criança, ou mediante cariz irônica na escola, encontrei na poesia das coisas simples, de Manoel de Barros, o modo de pensar bem a pessoa do agressor, o significado da educação ambiental e ecologia humana.


Como construir sociedades mais sustentáveis, ecologicamente prudentes, socialmente justas e culturalmente diversas? É o desafio contemporâneo da escola face ao nosso peculiar papel de espectadores dos fenômenos midiáticos do mundo globalizado ou como testemunhas de cotidianos.

Lavoisier (1743-1794): e na natureza tudo se transforma...
A Lata (Manoel de Barros)

Estas latas têm que perder, por primeiro, todos os ranços (e artifícios) da indústria que as produziu. Segundamente, elas têm que adoecer na terra. Adoecer de ferrugem e casca. Finalmente, só depois de trinta e quatro anos elas merecerão de ser chão. Esse desmanche em natureza é doloroso e necessário se elas quiserem fazer parte da sociedade dos vermes. Depois desse desmanche em natureza, as latas podem até namorar com as borboletas. Isso é muito comum. Diferentes de nós as latas com o tempo rejuvenescem, se jogadas na terra. Chegam quase até de serem pousadas de caracóis. Elas sabem, as latas, que precisam chegar ao estado de uma parede suja. Só assim serão procuradas pelos caracóis. Sabem muito bem, estas latas, que precisam da intimidade com o lodo obsceno das moscas. Ainda elas precisam de pensar em ter raízes. Para que possam obter estames e pistilos. A fim de que um dia elas possam se oferecer as abelhas. Elas precisam ser um ensaio de árvore a fim de comungar a natureza. O destino das latas pode também ser pedra. Elas hão de ser cobertas de limo e musgo. As latas precisam ganhar o prêmio de dar flores. Elas têm de participar dos passarinhos. Eu sempre desejei que as minhas latas tivessem aptidão para passarinhos. Como os rios têm, como as árvores têm. Elas ficam muito orgulhosas quando passam do estágio de chutadas nas ruas para o estágio de poesia. Acho esse orgulho das latas muito justificável e até louvável.


- Faz sentido?

Barros, Manoel de. Memórias inventadas: as infâncias. São Paulo: Planeta, 2003.

Um comentário:

  1. Com a sua permissão compartilhei no meu blog com os devidos créditos daqui...Bjks...Gil...

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