terça-feira, 12 de abril de 2011

Valentões e seus pés de feijão: uma história meio ao contrário

Vocês se lembram de plantar feijões em algodão na escola? Atrás deste ato experimental também costumávamos viajar na fábula de João-pé-de-feijão e de subir no pé depois de crescido. Mas, na sequência, à idéia da harpa ou da galinha dos ovos de ouro acoplava-se o medo de encontrar o tal gigante amedrontador?

Ficávamos miudinhos ouvindo... E logo depois íamos crescendo ao saber que, com sua perspicácia e coragem, o menininho venceu o gigante que comia criancinhas. Seguiam-se a La Fontaine histórias dos mais fracos vencendo os mais fortes e outras modas como as do rato e o leão, o lobo e o cordeiro, a tartaruga e a lebre, a rã e o boi, o corvo e a raposa, o leão e o pernilongo... Talvez por tantas delas nós menores não nos intimidávamos com os maiores. E assim no enredo das histórias da vida sempre procurávamos formas inteligentes de vencer o suposto mais forte.


- "Quem lê tanta notícia? Por entre fotos e nomes. Sem livros e sem fuzil..." (Caetano Veloso, Alegria, alegria, 1968). E o que lê nela?

Diferente das histórias que as telas de hoje em dia contam. A violência impera no meio das crianças das escolas. Nesse ponto trago algumas perguntas de T. S. Eliot (Coros de "A Rocha", 1934, p.289), crítico e poeta: “onde está a vida que perdemos quando vivos? onde a sabedoria que perdemos no conhecimento? onde o conhecimento que perdemos na informação?”. Estamos tão cheio de informações e pouco tempo temos [ou motivos] para pensar, meditar, respirar, refletir, intuir e reinventar histórias mudando fatalismos tais, e quando até nas fábulas de antigamente conseguíamos suspirar aliviados ao final delas. Sabedorias milenares a ensinar os mais fracos, pequenos, miudinhos a serem fortes, resilientes e inteligentes na intenção de humanizá-los na roda da vida, aproximar-se dos outros.

Com Adélia Prado (1995), outra poetisa, aprendi a ver e a “entender a palavra pelo seu reverso”. O agressor pode ser vítima e a vítima pode ser agressor. O autor pode ser alvo e o alvo autor nas relações entre alunos da escola, por exemplo:

E nós professores, como aprendemos a lidar com a situação? Encontrei um livrinho muito interessante e que aqui recomendo a todos interessados em saber mais: “Valentões, fofoqueiros e falsos amigos: torne-se à prova de bullying”. É literatura infanto-juvenil, muito bem ilustrado e de linguagem acessível, cheio de testes que nos colocam de frente aos problemas íntimos e nos apontam ideias de olhar para esses eus inseguros ou cheios de si.

Por favor, me ajude a ser feliz! A tornar a escola mais bela prazerosa e feliz. Vamos espalhar mais beleza por aí. A educação ajuda a reencantar a vida, reencantar as aprendizagens. Repetindo o que Snyders (1998) reapresenta-nos como provérbio inglês: “O tempo para ser feliz é agora. O lugar para ser feliz é aqui”.

Bem sei eu que “o poeta faz amor com as palavras” (Rubem Alves), consegue transformar poesia em prosa da vida ou prosa poética. [Inspirei-me em post anterior sobre bullying: “do lodo belas flores brancas”]. Nas histórias dele deparei-me com uma bem diferente a nos fazer pensar: a de um urubu que batia asas como beija-flor e sugava todo o melzinho de uma flor de alamanda. Ele era triste, pois seus pais morreram de desgosto. Um urubu que não come carniça é algo bem bizarro! Na escola, logo descobriram seus gostos... Doeu muito a ele conviver com zombarias pela não aceitação de sua diferença. Carniça é manjar divino. Chupar mel é contra a natureza. É pecado mortal. Deve ser banido.

Cheia de esperanças, as reticências de aqui abrem-se com Pedro Demo (2000). A sua prosa poética sabe reunir conhecimento e sabedoria feito arte, beleza, aprendência contínua...

A razão nos dá a capacidade da análise,
enquanto o coração a de participar (p.32).

Coisas tão fundamentais como a felicidade
não encontram eco maior na ciência,
mas podem ser realçadas e realizadas pela sensibilidade à
flor da pele, capaz de emprestar ao ser humano
dimensão muito mais ampla e solidária.

Ao mesmo tempo, a arte liga-se à cultura e, como patrimônio histórico,
guarda sempre o sentido profundo do cuidar em torno das identidades.
(...) Arte e cultura são, em si mesmas, provas definitivas da mudança, da
capacidade de aprender, mas não se descolam da história, do lugar, do
contexto. Mal entendidas, podem puxar parar trás, mas, bem
entendidas, iluminam o futuro e mantém o humano (p.62).


Referências
Alexander, Jenny. Valentões, fofoqueiros e falsos amigos: torne-se à prova de bullying. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
Alves, Rubem. As contas de vidro e o fio de nylon. São Paulo: Ars Poética, 1996.
____. Lições de feitiçaria. São Paulo: Ars Poética, 1998.
____. Navegando. São Paulo: Ars Poética, 1997.
Demo, Pedro. Saber pensar. 3 ed. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002.
Eliot, T. S. A essência da poesia. Rio de Janeiro: Artenova, 1972.
Prado, Adélia. Poesia reunida. 4 ed. São Paulo: Siciliano, 1995.
Snyders, Georges. A alegria na escola. São Paulo: Manole, 1998.

Um comentário:

  1. Querida amiga, ando sumida pois a vida está bem do avesso. Não, não é exatamente um problema, mas momento de mudança e reconstrução geral. Haja fôlego. Estou de volta. beijos,

    ResponderExcluir