terça-feira, 19 de março de 2013

Ler e aprender com a criança: histórias das interações e mediações da palavra


Como professora eu preciso de uma avaliação diagnóstica para pensar num programa de ensino e de meus estudos cujo princípio necessita da hesitação, da pausa, da dúvida, do olhar no ar, da mão que encobre a palavra e deixa visível, sem querer, o movimento do lápis que nos faz ler a palavra sobre suas mãos, o sorriso escorregadio e o apelo de aprovação ou da dica de qual a letra ou o fonema, mesmo que seja só o movimento de sua emissão... e vem a gente dizer tenta de novo, fale a palavra, pense na primeira letra e na última, mas, se está lendo a palavra dizemos quantas letras tem, quantos sons possui, qual a primeira e a última, quantas vogais têm e a lógica ajuda a repensar a palavra, a buscar combinações de seu repertório, abandonar a estratégia de dizer qualquer letra ou som em busca de nossa afirmação sem contar com a sua própria certeza... afinal, porque quer a nossa aprovação, algumas letras e sons se confundem, as complexas palavramundos dos textos musicados, poetados, contados, informativos e que são homófonas (de igual pronúncia, grafia e significado diferente), homógrafas (de pronúncia e significado diferentes e mesma grafia) , parônimas (grafia e pronúncia “parecidas” e de significados diferentes), homônimas (significados diferentes, mas, de “mesma” pronúncia e grafia)... Será que teme o erro? O que já sabe sobre escrever errado? E lá vamos juntos tentar entender porque são tão parecidas, de posse do conhecimento da língua vamos interagindo com o nosso tal português.

Afora adentrar no mundo das imagens, das lembranças, dos movimentos, da dinâmica da vida, das emoções e sentimentos, dos símbolos, dos recursos visuais tão múltiplos e encantadores como as palavras e seus significados e sentidos no contexto... e que viagem, meus queridos amigos, já passamos e estamos passando na escola com nossos coleguinhas, é são mesmo muitas aprendências novas, e o papo vai longe por vezes e lá vem um nova palavra compor essa aventura de aprender a ler e que tem o poder de nos reviver, de nos enviesar... coisas a torto e a direito que nos recompõe mais parceiros das letras nas palavras e seus tantos mais dizeres e modos de usá-las nesse mundão aí, lá em casa, afora de nós e por dentro que nos espezinha e poeta também, afinal, ninguém é de ferro.
E quem quiser que conte outra, me dá licença agora que estou louquinha para voltar a interagir com as nossas crianças lá da nossa escola. Beijinhos mil e bye, bye, ao astral mil de bom.
Múltiplas linguagens. É a vida na escola. Obrigado, crianças!

domingo, 17 de março de 2013

Escrita da vida

ASSUNTOS DO VENTO... e melhor assim com Mil-tons "Com o coração aberto em vento. Por toda a eternidade. Com o coração doendo. De tanta felicidade. Coração, coração, coração. Coração, coração... ".

FOLHA CORAÇÃO, a educação para mim é isso, papel e lápis de folhas, de árvores, de vida! Precisamos saber escrever nela a nossa história, marcada de alegrias de tantas mãos que escrevem, olhos que espiam o mundo e pensamentos que se registram nas folhas da vida, carregadinhas de nós.

domingo, 3 de março de 2013

Escolha da Palavra: o rio é rua, a ilha é o Paraíso

Aprendo com leituras e por aqui reaprendo a "palavramundo" das crianças da Ilha de Mosqueiro, alunado advindo de 13 localidades. Repenso a palavra e o contexto junto com os educadores de lá, porque “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente” (Santos, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção, Ed. Hucitec, 1996, p. 273). Essa população é urbano-ribeirinha-extrativista, exige-nos atenção ao discurso, importante escolha da palavra, conforme Paulo Freire, afinal, a palavra é um "signo social ideológico" (Bakhtin - Marxismo e filosofia da linguagem, 2004).

Amanheci com as histórias do povo daqui, aclimatada pelo inverno típico de Belém. Um sonhar acordado de olhos amanhecidos. Hum! ...a vida é sonho (La Barca, 2007) e tudo se mistura, e aí é preciso manter o caráter enigmático do sonho, segundo Benjamin (1984), por isso vou seguindo entre enigmas e aprendências.

Redescubro Mosqueiro nas matutinas idas pedagógicas para lá e enriquecida com o tempo das aprendizagens de lá venho da nossa Escola a Belém.

Chego às "palavramundo" de Paes Loureiro (Cultura amazônica: uma poética do imaginário, Ed. Cejup, 1991), no vai e vem das ondas da Praia do Paraíso, e entremeio aos barcos e à mata ciliar ecoam as palavras dessas águas pardas, por lá reli que os rios “escondem embarcações encantadas na manga de sua casaca de lendas, devora cidades, alimenta populações, guarda em suas profundezas ricas encantarias habitadas pelos Botos, Uiaras, Anhangás, Boiúnas, Cobra Honorato”.

E a música de Ruy Barata e Paulo André, vai nos reencantando no cenário da escola e no chão de assentamentos ou ocupações...

ESSE RIO É MINHA RUA

Esse rio é minha rua / Minha e tua, mururé/ Piso no peito da lua / Deito no chão da maré / Pois é, pois é.../ Eu não sou de igarapé / Quem montou na cobra grande / Não se escancha em poraqué / Rio abaixo, rio acima / Minha sina cana é / Só em pensar na mardita / Me alembrei de Abaeté / Pois é, pois é... / Eu não sou de igarapé / Quem montou na cobra grande/ Não se escancha em poraqué / Arresponde boto preto / Quem te deu esse piché / Foi limo de maresia / Ou inhaca de mulher? / Pois é, pois é... / Eu não sou de igarapé / Quem montou na cobra grande / Não se escancha em puraqué.



sábado, 2 de março de 2013

Pacto com a práxis libertadora

O que chama o menino, à esquerda, para essa atividade de escrita? 

[Esta é uma boa pergunta].



- O que chama o aluno à escola?
- O que seduz o educador?

A escola é o lugar da cultura viva, do dia-a-dia do aprendente, de (re)encantos, de novas combinações que ajudam a reinventar, reescrever a história e transformar vidas.

O contexto sociocultural, o pensar reconstrutivo, o processo interativo, mediado, interdisciplinar, contextualizado. Um currículo com dois olhares: um interno/internalizado e outro no mundo lá fora/articulado. A linha pedagógica do socioconstrutivismo/etnopedagogia quer formar cidadãos que saibam pensar, ouvir o outro e respeitar o diferente.

O pacto da alfabetização deve respeitar essa autonomia do pensar, reinventar, de sentir-se bem, de construção das autorias (autoimagem, respeito próprio, autoestima, percepções), das argumentações, da cooperação, do processo reconstrutivo...



E o "mas" acontece, é um conectivo... é preciso reencantar a educação!